A memória de casa veio de formas inesperadas depois de muitos anos vivendo em outro lugar. Me visitou numa noite tranquila, como uma pinha que subitamente caiu em cima da cabeça minha. Visitou em uma imagem de um cachorro falante, não real, por ele foi um desenho animado, gordo e de gravata. Estava falando em uma fazenda, e parece-me que eu o conheço, mas quem, exatamente, foi cachorro? Parece que foi saído da minha infância…
Me lembro.
Roger, se chama. Sim, naquela noite, com a luz fraca de lâmpada, examinei minuciosamente esta lembrança vaga, como descascar uma cebola. A história foi: o cachorro vaidoso, da uma família abastada de Nova Iorque, acabou em uma fazenda e tive de aprender a vida normal. Talvez – não me lembro bem tudo. E assim, mudou-se o canal. Um outro grupo de animais entrou na minha mente. Este aqui tem um burro que enfrentou algo assustador, como foi quase cortado ao meio. Mas não sei mais.
Porque me lembro algum destes? Preciso de saber. Quero regressar a casa onde todos os CDs que possuí está ainda lá. Deixa-me re-assistir o que já vi. Não só isso, mas também as cassetes VHS com o Nalle Puh e a minha música preferida “Havet Är Djupt”, na altura em que o sueco não era estrangeiro. E mais outros filmes que nunca tive, pois alugámos no aluguer de CDs perto do supermercado Borma. Quando mamãe me levou ao Borma, me deixava no aluguer para escolher dois filmes de muitos, enquanto ela procurava os comestíveis. Sempre emprestava Todo o Cachorro vai ao Paraíso. Com o CD na mão, segurava a mão da mamãe no nosso caminho de volta para casa.
O aluguer não existe mais. O gravador de VHS não funciona mais. Os CDs em casa estão recolhendo poeira. E a mesma mão é agora menor. Me desconcerta quando saudades de casa são, na verdade, saudades de infância. O lar pode ser atingido por 15 horas em fuga, mas por muito que a distância seja percorrida, o passado nunca pode ser alcançado. E assim, a cebola tem sido descascada e o cheiro pica os olhos.
